domingo, 24 de fevereiro de 2013

Natal...

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Ah, Noel!

Se eu voltasse a ser criança
talvez fosse receber,
ou novamente esperança
poderia ainda ter,
o que eu guardo na lembrança
que não pude merecer.

Poria o meu sapatinho
naquela humilde janela
onde sempre eu, quietinho,
olhava a lua, tão bela!
O chão, um mundo de espinhos!
O céu, adorável tela!

Gilson Faustino Maia – Petrópolis / RJ

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O QUE RESTOU DE PURO NO MUNDO

Diariamente ele saía
Surgia como inspiração
Ou ilusão:
Vestido de cores vibrantes
Vestido do vermelho e do branco.

Importava-lhe, sim, as cores
De uma, a vibração, a energia, a vida e a veemência
Porém, era do branco que lhe revestia as mãos que ele mais se dignificava...
A brancura absoluta das luvas, a brancura absoluta de espaços
Cobrindo a palidez insuflada sob a pele.

O branco, pensava, não se pode sujar,
E a palidez, bem, as luvas escondem...

Aqueles dias eram feitos de Tempo:
Havia gritos eufóricos, sorrisos, alegrias, gestos de crianças...
“ Mãe, lá está o papai Noel!”
E ele , logo, perguntava:
“O que você deseja , meu filho?”
“ Um i-pod” 
Ele ria : modernidade indecifrável, pensava.
E olhava nos olhos das mães 
Palidamente,
Indagando se poderia confirmar aos pequeninos
O recebimento do ‘ carinho’...

Papai Noel tem momentos assim
Em que não sabe o que responder a uma criança...
Mas suas mãos são tão puras, tão brancas,
Capazes de conceder espaço a tanta ternura
Que manchas de sujeira nos dedos das luvas
Justificam horas a esfregar, lavar, ensaboar, escovar...

Garantiu-se ao velhinho um mês integral de trabalho digno
Uma bênção humana a um velho desempregado
Uma bênção crística de voltar a estar e ser entre crianças

Mas na noite de Natal
O shopping não abre
Papai Noel pode voltar para casa de vez:
Desemprego,
Velhice,
Solidão
Abandono de cadeiras vazias e ceia, enfim farta, pelo fruto trabalhado.

A palidez de tudo que finda treme pelas mãos
Suja-lhe de ausência a veemência da vida.
Última noite
Resta a lembrança de seus olhos indagando às mães
O recebimento de carinho:

O menino recém nascido, ainda na brancura do céu,
Também deve ter momentos assim
Em que olha olhos pálidos e idosos
E não sabe o que responder a Papai Noel...

(Ao pisarmos neste mundo, só encontramos pureza. Nós mesmos somos fruto dessa absoluta pureza. E só estaremos vivos, se o sorriso de uma criança nos embarcar em eterna viagem.)

Carmem Teresa Elias - Rio de Janeiro/RJ

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Viagem de Natal

Nos sonhos da poesia viajei 
noite e dia sem fim 
quando resolvi eu parei 
é Natal, é dia do Rei.

Seu sorriso de menina criança 
se fez diante de mim 
como luz que brilha forte 
como luz que arde sem fim.

Estou vivendo a vida 
querendo sempre querer 
quero uma vida melhor 
sem ferir e sempre viver.

Seus olhos marcantes 
a vida sem medo refletem 
uma grande vontade, 
um enorme desejo prometem.

Porém a vida continua 
com mais força se diz... 
Só espero que não tenha fim 
a vontade de ser feliz. 

Me fez ver a vida 
sua paz sem igual 
uma alegria me invade, 
fico feliz hoje é Natal.

Rodolfo Andrade - Petrópolis/RJ

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Natal

Junta os minino e as mulhé
e anda a aprontá o presépio.
Vai minha filha, procura o minino Jesus.
Vixe mainha, como ele tá velho!
Num fala isso minina!
Corre a colhê a fulô do urucum 
e o canto do anum
Cata as pedrinhas do corgo e 
o som do vento nas árvore
Prepara o pão e sua trança,
a forma do bolo e a blusa branca,
o biscoito avoador e a fita pro cabelo,
aproveita o ensejo e, com muito jeito,
enfeita o coração da vizinhança

Faz o cartão com a cartolina vermelha
e a mensagem faz mesmo, assim, de lápis
Decalca a santa e busca a luz certa na visage
Anda que o tempo corre!
Busca o selo no pote e pega o correio aberto.
Lá se foi a carta de vó Rosa, 
o cartão de vó Nenzinha...

E a areia do presépio?
O corante... 
E o tom da cor?
O papel madeira lá em cima da cadeira
no meio do corredor 
O galho bem do alto da roseira,
a folha seca e a fulô da gameleira
Avia buscá o doce que cumade Fia preparô!
É suspiro, papo de anjo e quindim
E a reza?
Aquela cumprida, desfiada no rosário, 
apregoada pelo vigário da Capela do Sem Fim.

A percata é pra janela, 
a galinha é pra panela,
o jarro de Dálias é só pra ela

Tira as cadeiras da sala,
leva a mesa pra varanda.
Anda! Que Dona Chica chegô!
E a armação do presépio já tem cor:
Azul anil, amarelo ouro,
prata e purpurina do armarinho de Seu Nô.
Tá um brinco!
Nossa Senhora como tá lindo!
Só falta agora o minino Jesus.
Vixe mainha, que ele tá é velho!
Minina, não fala mais isso do filho de Nosso Sinhô!

Cynara Novaes



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