domingo, 24 de fevereiro de 2013

Quintais

A Confraria da Poesia Informal versa sobre os quintais, estes espaços mágicos que, na infância, significam fortaleza, liberdade, encontro, mistério e vida, muita vida. 



(A figueira é uma homenagem ao quintal dos meus avós)

Quintais... 

Quero de novo os quintais de minha infância
Onde os limites afastavam os malfeitores
Onde os relógios não aceleravam a vida
E tinha um tanto de tudo: mato, cão e flores. 

Os quintais de minha casa, da avó, das amiguinhas
Cada um com seu particular universo e encanto
Onde desenvolvíamos tarefas criativas
Inventos e brincares dos quais me lembro tanto. 

Hoje os quintais são, pra mim, tão diferentes
Cresceram os limites do mundo e não tem mais portão...
O espaço é bem maior, nem se vê o horizonte,
Mas a liberdade, essa é só ilusão.

Muito mais livre eu era em meu velho quintal
No controle da mãe, a brincar sob o seu varal
Que agora, nessa camuflada dimensão 
Em que até o sorriso passa por uma inspeção. 

Catarina Maul - Petrópolis/RJ

..............




Leitura no quintal

Eu queria poder a rede armar
numa manhã de sol no meu quintal.
Seria uma manhã especial...
Um sabiá num galho a festejar
e o beija-flor a rosa vir beijar.
Um Vinícius contando linda história
de um romance, escolhida aleatória,
porém bem parecida com a minha,
de quando eu era rei, você rainha,
que jamais deixará minha memória.

Gilson Faustino Maia - Petrópolis/RJ

....................



O meu quintal


Ah, o meu quintal?
Ainda tem cheiro
Não há nada igual
Brincar no terreiro

Cheirinho de mato
e terra molhada
Miado do gato
e muita risada

As fugas pra mata
o elo perdido
Brincar com sucata

num canto florido
Andar sobre a lata
Prazer proibido

Luciana Cunha - Petrópolis/RJ

....................




Mão, leve


Te amo
como quem comete um delito
que não lhe caberia cometer
mas dá prazer
Então
bom cidadão
mal acredito
no que é capaz meu coração
delituoso
fora-da-lei amoroso
assim quão
assim tão 
Mão furtiva a furtar
a fruta mais doce do quintal
Subtração
Bom Sinal
de mais

Jorge Ricardo Dias - Rio de Janeiro/RJ
..............




Quintal, amor e bananas

Saímos pelo quintal
Falando besteiras.
Felizes e apaixonados
Debaixo da bananeira.

Leito de amor...?
Céu radiante?
Perfume constante...?
Ah! Meu Deus quantas bananas!

Desafiaria o mundo inteiro
Para estar naquele lugar!
Quanta beleza escondida há na vida...!
Quintal, amor e bananas... Quem notará?

Nosso mundo era aquele:
Um quintal inteiro... Tudo transcendente!
Sem prudências que o bolo de bananas
Ficou diferente. 

Magela/Carmem Teresa Elias

..............


Meu quintal... Que tal?


Meu quintal
Não é grande
O bastante,
Fundamental.

O meu nicho
Onde convive
Muito verde,
Muitos bichos.


Tem florada
O ano todo
Passarada,
Pedras e lodo.


Vem sagui
Voa sabiá,
Sobe quati
Vai gambá.


Jabuticabeira
Bambuzal
Trepadeiras
Matagal.


Nasce o sol
Entre árvores
Aranhol
Entre mármores.


Tem formigas
Tem vespeiros
Entre vigas
E arameiros.


Meu quintal
É um recanto
Nutrimental
Todo encanto.

Giancarlo Kind Schmid - Petrópolis/RJ

..............



Havia muito tempo que não ia mais lá. Décadas, na verdade, em que deixei de visitar coisas da minha infância. Porque infância, não é só um tempo; é também um lugar em que ficam enraizados nossos relógios! E se não voltamos lá, deixamos de ouvir nossas próprias badaladas.
Minha infância fora plantada em um quintal. Numa época em que não havia ainda os muros que estão lá agora. Apenas uma imensa mangueira ocupava o centro. Era a árvore que minha avó havia plantado quando se casou e foi morar ali. Depois, ela assentou o banco de pedra. O mesmo banco de pedra onde, à sombra da mangueira, nós duas nos sentávamos, enquanto ela me contava suas estórias da roça. Quando ela completou sua infância, apaixonou-se!
Lá no interior de Minas, por um palhaço de circo. E esse capítulo, contava repetidas vezes... Sua paixão fora aquele palhaço, engraçado, animado, que vinha todos os anos de longe, trazendo histórias e brincadeiras que faziam todos rirem... Até que seu pai descobriu sua intenção de fugir com o palhaço! Foi aí que ele mandou dar uma surra no coitado e o circo foi obrigado a ir embora de vez daquela região. Bem, o circo e o palhaço foram embora. Minha avó, pouco tempo depois, também foi embora; casada, não com o palhaço, mas com meu avô. Quando aqui chegou, inaugurando sua vida adulta, plantou a árvore, e guardou a memória do palhaço ali. 
Deve haver uma dor nessa saudade que ainda incomoda! Não falo da dor-sofrimento, mas daquela que constrange mergulhada de corpo e alma das lembranças, afinal de contas esses nossos quintais são como nossos filhos e, filhos são sempre uma responsabilidade.

De Carmem Teresa Elias/De Magela


..............

Fundo de quintal

No fundo do quintal
Há musica, beleza
No fundo do quintal
Há flores, natureza.

Encher os pulmões de energia
E acrescentar a boca cores
Fazer da vida coisa simples
E dos minutos, terapia.

Pássaros livres, alegrem meu dia!
Cantem em harmonia!
Transformem o mundo em magia!

Agora sou Cinderela que outrora não calçou o sapato de cristal
Prefere o quintal
Abandonou o castelo real.

Não se esvaiam sonhos
Não se esvaiam cores
E pássaros livres, se for algo natural
Voltem a meu fundo de quintal

Leila Maria - Cruz das Almas/BA

..............


Pisei leve as folhas secas
Subi e desci laranjeiras
Saboreei seu olhar como as frutas do pomar
Cheiro de mato,cheiro de paz
No quintal do meu coração
Você plantou as flores,
descobriu amores,
regou e alimentou meus sonhos,
colheu meu sorriso...
e jogou a semente.
No quintal do meu coração,
colhi você,meu maior PRESENTE!

Fernanda Foster - Petrópolis/RJ

..............


Mais um pouco de feijão

Falta água...
Mas em compensação chove tanto!
Fico em mágoas pela casa...
Vendo-a, verter por todo canto.

Na solidão dessas horas cismo cozinhar...
Ferver a dor insensata, misturar tudo com batata,
Encher a panela de pressão, andar pelo quintal...
Voltar e temperar mais um pouco do feijão!

Alho e cebola, antes que a vida nos encolha.
Lá na Itália, alho espanta o mau agouro.
Para mim é garantia de soberbia:
Enriquece o sabor: da vez a alegria!

Panela fervendo...
Saudade misturada a tempero da panela de barro...
Forno a lenha sem alvoroço...!
O que fazer, se a vida não nos dá o troco?!

Ferve o feijão e a cabeça da garotada...
Uns querendo assistir televisão...
Outros, a estudar história medieval:
Lendas, bruxas, fadas, mas, falta água...!

Misturo tudo no caldeirão... 
Como pode faltar luz e faltar água na chegada do verão?
Lanço as falas em volta, pela cor do feijão: mundo moderno...
Fantasia, leituras distintas pela cozinha...

Melhor servir logo o prato,
Ante uma situação tão fria;
Melhor distrair a escuridão danada,
Do que ter a alma vazia!

Roma Magela/Carmem Teresa Elias.

..............


"Na alma branda dos meus quintais"

Córregos de vida e infância
ao redor da casa mãe
carramanchões versejam
remotos gracejos
primeiros beijos
e a vaga esperança...
Pegadas na terra batida
marcas de outras cirandas
alegria de sujeira boa
de espremer jabuticaba
nas canções de vida à toa...
Luzes por muro cercadas
retidas nas atentas heras
verdejantes gargalhadas
sob austeros olhos maduros
e vãos apuros
de descobertas veras!
Vidouro sonho cambaleante
não de vinho ou ouro
mas verde úmido
musgo de outrora
catando pedrinhas
em pequeninos esconderijos
manchados de amora...
Mosaico entalhado de vidas
chegadas ou recém partidas
na asas do colibri
que só quer uma flor mais
na alma branda
dos meus quintais...

Juliana Brasil - Petrópolis/RJ

...................

Naquele quintal... 

E atrás de mim corria minha avó, fingindo ser lobo mau.
E quando perto de me pegar, fugia eu que nem coelho.

Coqueiros havia, de cujos cocos bebíamos água,
E com tato certeiro, vó colhia bons maracujás,
Delícia, seu suco era de aliviar qualquer mágoa.
E, na rede à tardinha, podia-se ouvir o som de sabiás.

Sabiás e tantos outros passarinhos,
Lagartos, lagartixas e cobras,
Perto do mato, árvores cheias de ninhos,
Numa casa da qual minha avó foi a própria mão de obra.

Construída por seus braços,
Tijolo por tijolo constituíram importante lugar.
Cenário de muitos abraços,
Infinitas histórias pra se contar.

Em frente à praia, em lugar de nome engraçado: 
Jaconé. Valeu à pena cada momento.
Lugar de pôr-do-sol dourado,
E de praia deserta, acompanhada apenas pelo vento.

Um rio atrás da casa corria,
Aonde algumas vezes cheguei a pescar.
Foi também onde recebi uma linda notícia:
A de que em breve um irmãozinho eu ia ganhar.

Para miquinhos demos muita banana,
E para nossas vidas demos muita alegria.
Nesse quintal tinha também pé-de-cana,
Gosto doce que dava energia.

Elis Bondim - Rio de Janeiro/RJ

.....................


Vi nave 
Vi nove avôs
Vi ave em vôo
Senti love rende vouz
No quintal em pleno zoo.

Abri a chave
Entrei na chavena
Tomei um cha em 
Novena e rezei tocando uma clave
de sol e me pus no quintal livre
Chegando em vernisage, ufa, 
Parei no campo e vi uma paisagem sem pai e só um personagem,
Trabalhei de cavanhaque sumi no Iraque e fiz delivery
Entreguei Very livros na casa de Pintangy, ufa,
Depois descancei no quintal da fazenda do senhor Manoel de Barros.

Fernando de Sousa Andrade - Rio de Janeiro/RJ

....................

Quintal da infância

Naquele pequeno espaço,
por breves instantantes tão meu,
tornava-me mais que um rei
e até maior que um deus...

Tornava-me criança.

Edweine Loureiro - Japão

.....................


Cheiro da casa de vó
invade-me por inteiro
quando vejo um galo só
lembro bicou o meu traseiro.


Rodolfo Andrade - Petrópolis/RJ

....................

Saudade do meu quintal

Meu quintal não é diferente
Tem cheiro de mato molhado
Tem cheiro de gente
Tem vó plantando flores
E mãe brincando com a gente

Me vejo ali com a mana
Sorrindo e correndo na grama
Me vejo ali com o mano
As vezes cantando
As vezes chorando

Guardo em mim algumas marcas
Tenho em mim muitas lembranças
Um quintal muito animado
Que me faz abrir um sorriso
Me deixa com olhos marejados

Claudia Marinho - Petrópolis/RJ

....................

Naquele quintal... 

De minhas lembranças de quando pequenina,
Sem dúvidas as ‘daquele’ quintal são muito especiais.
São memórias de uma alegre menina.
As quais, ao surgirem em minha mente, trazem-me paz.

Em meio ao pequeno milharal,
Escondia-me, fingia ser chapeuzinho vermelho.
E atrás de mim corria minha avó, fingindo ser lobo mau.
E quando perto de me pegar, fugia eu que nem coelho.

Coqueiros havia, de cujos cocos bebíamos água,
E com tato certeiro, vó colhia bons maracujás,
Delícia, seu suco era de aliviar qualquer mágoa.
E, na rede à tardinha, podia-se ouvir o som de sabiás.

Sabiás e tantos outros passarinhos,
Lagartos, lagartixas e cobras,
Perto do mato, árvores cheias de ninhos,
Numa casa da qual minha avó foi a própria mão de obra.

Construída por seus braços,
Tijolo por tijolo constituíram importante lugar.
Cenário de muitos abraços,
Infinitas histórias pra se contar.

Em frente à praia, em lugar de nome engraçado: 
Jaconé. Valeu à pena cada momento.
Lugar de pôr-do-sol dourado,
E de praia deserta, acompanhada apenas pelo vento.

Um rio atrás da casa corria,
Aonde algumas vezes cheguei a pescar.
Foi também onde recebi uma linda notícia:
A de que em breve um irmãozinho eu ia ganhar.

Para miquinhos demos muita banana,
E para nossas vidas demos muita alegria.
Nesse quintal tinha também pé-de-cana,
Gosto doce que dava energia.


Caquinho foi nosso cão querido;
Ipês-de-jardim havia - lindas flores amarelas - 
Sem as quais nosso quintal o mesmo não teria sido,
E que embelezavam a vista que tínhamos das janelas. 

Depois de alguns anos parte da terra plantada
Transformou-se em água: uma agradável piscina.
Na qual até de noite ficávamos, com a mente relaxada.
E, aos poucos, essa casa deu adeus àquela menina.

Porém a menina não deu adeus,
Visto que a casa faz parte de si.
Momentos lá vividos, momentos meus,
Guardo-os com carinho em mim.

Elis Bondim - Rio de Janeiro/RJ

....................

O quintal que eu nunca tive

Quando aprendi a contar estrelas, 
Me ensinaram a ter certo cuidado:
- Apontar dá verrugas ao vê-las!
Nunca liguei para esse enunciado.

Do meu terraço contemplava o céu.
Meu pai me ensinara outra lição:
As nuvens formam desenhos sem véu
Com o poder da sua imaginação.

Por entre os balaustres, fitava atento 
Os meninos que brincavam na rua,
Mas do alto do meu castelo de vento,
Meus braços só alcançavam a lua.

Meu castelo de vento voou pela vida
E me deixou uma lembrança sentimental:
Aquele terraço era a companhia preferida
De um menino que nunca teve um quintal.

Filipe Medon - Petrópolis/RJ

.....................

Nunca tive um quintal.
Sou urbana.

Mas minha avó cobriu de flores
com pétalas incolores
os caminhos por onde passei.

Brinquei de roda,
de pique-tá,
de olho-de-boi.
Na rua, num só depois...
da escola,
do ballet,
do francês.

Nunca tive um quintal.
Sou urbana.
Mas minha avó me deu uma árvore chamada Dodô.
Visitava-a todos os dias.
Meu primeiro segredo.

Nunca tive um quintal.
Sou urbana.
Mas minha avó me deu uma codorna.
Maristela botou apenas um ovo em toda a sua vida e morreu.
Meu primeiro funeral.

Nunca tive um quintal.
Sou urbana.
Mas minha avó me deu a Lua e as Estrelas.
E me disse que as emprestasse 
a quem delas precisasse.
Meu primeiro sonho.

Regina C. Diniz
Nunca tive um quintal.
Sou urbana.
Mas tive Jandyra, Marquez 
e um gato chamado Chinez.
Meu primeiro amor.

Nunca tive um quintal.
Sou urbana.

Regina C. Diniz

....................


Aventuras sem fronteiras

No quintal de minha infância
não existiam limites
e muito menos covardia.

Às vezes sem convites,
invadia quintais vizinhos.
Mas nisto, estávamos quites... 

Lar de muitos passarinhos,
nele sempre me aventurava,
seguia muitos caminhos.

Tantas coisas imaginava:
uma amiga que só eu via,
um vulcão soltando lava...

Um quintal com exuberância,
do paraíso era uma porção,
e proporcionava muita alegria.

Lembranças que trazem emoção
D'um lugar que me viu crescer
e que moldou minha feição.

Quintal que garantia liberdade 
para a criança cheia de energia,
que sempre tinha uma atividade!

Elciana Goedert

....................


Eterno quintal

...Correr pelos cantos daquele “campo”... 
Abria-se à minha frente
Um quintal...

A minha visão era imensurável...

Árvores, matos, bichos...
João e Maria...
Me perdia em tão linda floresta.

Meu mundo, minha chácara

A luz espelhava-se em dourados
Azuis de muitos tons
Verdes maiores ainda
Insetos multicolores

Acho que por isso gosto tanto de cores...

Ana Lucia souza Cruz - Campos dos Goytacazes/RJ

....................

QUINTAL

Que saudade
Do meu tempo
De criança
Guardo vivo
Na lembrança.
Do tempo que
Passava horas
Brincando no
Quintal.
Meninos e
Meninas
Brincavam
De tudo com
A maior pureza
E inocência.
Sem parar,
Por uma
Única razão
Só pensávamos
No quintal.

ALAN BASTOS LIMA - Petrópolis

Nenhum comentário: