segunda-feira, 18 de março de 2013

Petrópolis chora


SEGUNDA-FEIRA, 18 DE MARÇO DE 2013

Petrópolis, 18.03
Às 15h de domingo vi a primeira pancada de chuva no bairro Siméria. Enquanto isso, no Cremerie não chovia. Às 16h chovia nos dois lugares e, desde então, não parei mais de ouvir o barulho da chuva caindo até agora. São 11 da manhã do dia seguinte. São 20 horas de chuva. 

No início ninguém se assusta, é perfeitamente normal essa chuva prolongada em Petrópolis. Mas no fim da noite começaram a surgir as fotos dos rios transbordando assustadoramente, a água no Centro Histórico em uma altura impressionante e os pedidos de socorro. Eram pessoas presas em lojas com a água alta, presas nos carros inundados gritando "Socorro", enquanto quem morava em frente nada podia fazer (realmente não tinha como sair de casa), notícias de que outros estavam soterrados e não havia passagem até os lugares nessas condições. De brinde, ainda houve vazamento de gás em um dos bairros de condições mais complicadas e os bombeiros não tinham como resolver. Quem conseguiu dormir foi se deitar acreditando que ao amanhecer a situação estaria menos crítica.
E não está. Realmente não vemos tanto pedido de socorro nem gente avisando que as pessoas estão presas com água na cintura aqui ou ali, mas vemos as imagens de barreiras enormes, de pontes e até mesmo ruas destruídas. Vemos as fotos que provam que NADA ontem era exagero: os rios transbordaram e fizeram da cidade toda um rio enorme, são realmente assustadoras. 

Primeiro de tudo: não é só falar, tem que fazer. De todos esses que compartilharam fotos nas redes sociais, não posso negar, vi bastante gente se manifestando para ajudar, se esforçando e se preocupando com o próximo. Me orgulho. De qualquer forma, vi também muita gente expressando seu pavor diante da situação, mas nada faziam... muitos, nem farão. Continuarão em casa, já que foi decretado ponto facultativo pelo prefeito, se aterrorizando com as imagens e com as notícias que muitas vezes estão atrasadas ou nem são reais, e amanhã (ou quando for possível) voltarão para suas vidas normalmente, sem se preocupar em agir diferente ou levantar-se da cadeira em frente ao computador para ajudar. 
Os pontos de apoio, outros lugares e outras pessoas estão recolhendo e precisando (e muito) de alimentos não perecíveis, agasalhos e cobertores. Para muitos não parece preocupante pois nós, que estamos aqui digitando, estamos seguros em casa, agasalhados e alimentados. Mas eles não tem como nos pedir nada, estão em um lugar com um grande número de pessoas e provavelmente com frio, tendo que dividir a comida com um número considerável de pessoas.

Depois, minha maior reclamação, o que eu vou mesmo focar pois me preocupa tendo em vista que não é um ponto que deve ser discutido diante de tragédias e sim todos os dias, como obrigação de cada cidadão que quer ter o direito de reclamar que o prefeito não faz isso ou aquilo e todas as outras reclamações hipócritas que vemos por aí. 
Pois bem, há pouco tempo tivemos um problema com a falta da coleta de lixo em Petrópolis. Antes de tudo: o problema foi no governo Mustrangi, não vejo sentido citarem esse fato culpando o Rubens Bomtempo. Não sou, nem de longe, uma defensora do atual prefeito, mas acho essencial que olhemos todos para nossa própria consciência e responsabilidades enquanto cidadãos. 
Em muitas fotos de barreiras, vejo sacolas plásticas e lixos espalhados em uma quantidade que não dá pra acreditar que é por falta de coleta. Não dá pra acreditar porque não é mesmo! É ficar 10 minutos na rua que você não tem mais dedos pra contar quanta gente jogou lixo no chão. São essas pessoas que só querem conhecer seus direitos mas não estão em dia com seus deveres. Deveres esses que não são com o governo, com a prefeitura, com o estado, mas sim consigo mesmo e em respeito a todos que contribuem para uma cidade limpa. 
Não estou culpando ninguém pelas tragédias, é uma catástrofe natural que, infelizmente, está se tornando cada vez mais comum e maior na Região Serrana do Rio. Estou apenas tentando lembrar a todos, e a mim também, que precisamos ser solidários todos os dias (todos mesmo!) e que, embora seja de extrema importância a ajuda que vamos dar no momento de desespero de quem precisa, cada um precisa ajudar o outro sempre. Não evitaríamos a chuva, é claro, mas tenho certeza que, ao menos, diminuiríamos o número de encostas condenadas pelo lixo acumulado debaixo da terra ou, no mínimo, os estragos que a queda dessas encostas causam. 

Escrevo para lembrar, até por forma de pedido, que temos esse dia em casa e não podemos sair para arriscar nossas vidas. Vamos sim continuar a campanha no facebook e usar a internet para espalhar e receber notícias, mas vamos também abrir não só o armário de roupas e de cozinha, mas o coração e a mente. Abram seus corações, sejam solidários e separem roupas que não usam mais. Se não tiverem alimentos para doar em casa, comprem o que puderem (e se puderem) de alimentos não perecíveis e material de higiene. Depois do mercado, leve até um ponto de apoio. Tem muita gente precisando. Enquanto fica em casa, abra a mente e pare pra pensar na ação mínima de cada dia que cada um de nós pode fazer e não faz, tire a lição da situação ruim pra levar de lição que podemos contribuir pra uma cidade ao menos um pouquinho melhor. 
E aproveitando o espaço do comentário sobre a política e o prefeito, só mais um pedido: se você está insatisfeito com o governo, não anule seu voto nem diga que não vai votar porque é sempre a mesma coisa. Mexa-se, mais uma vez, como cidadão e lute por um governante honesto na cidade. 

É isso. Que muita luz seja emanada pra cada uma dessas pessoas que precisam do nosso apoio!

Carolina Machado


Após ler esse texto de Carolina, Catarina Maul lança mais um desafio aos poetas da Confraria:


Petrópolis Chora





Lágrima que mata

Eu olho da janela, o dia chora 
Porque minha cidade está tão triste
Difícil acreditar, mas isto existe: 
tormenta, escuridão a essa hora

Pedido de socorro, escuto agora
Gemido aqui sem trégua, ainda persiste
A mãe procura o filho e não desiste
de tê-lo em seus abraços como outrora

Não sei o que fazer, me sinto inútil
Não quero ser mais um discurso fútil
Só resta-me escrever nesse momento

Na minha pequenez, então eu grito
e deixo a minha dor, aqui escrito
Em versos eu transformo o meu lamento


Luciana Cunha - 18/03/2013
Petrópolis/RJ
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Lágrimas -18/03/2013

Há momentos em que me sinto
Na maior das impotências
Olho e vejo, 
Sinto e percebo
Pequenez 
Diante da dor...


Ana Lucia Souza Cruz
Campos dos Goytacazes/RJ
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Um bom acordo é melhor que a desgraça

Saia da frente, livre a minha estrada,
agora é minha vez, o meu momento.
Se houver barreira eu juro que arrebento...
Há tempos faço aqui minha jornada.

Vem, depois, o jornal, sou mal falada...
Não faça em meu caminho, acampamento,
tire a sujeira. Faço um juramento:
eu passarei, mas sem destruir nada.

Será que não existe engenharia
capaz de calcular o meu trajeto?
Fale, poeta, em sua poesia!

Peça manilhas, muros de concreto
e menos lixo, menos covardia...
Governo e povo sejam mais corretos.

Gilson Faustino Maia


Petrópolis/RJ
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Maquiavélica

Sem medo você vem
seu grito é forte 
a caminho do norte 
seguindo em frente 
chegando onde quer chegar. 

Quando passa não vê obstáculos 
imaginando ser única no universo 
o choro da criança não vê, 
nem a dor da mãe que acolhe
únicos são seus vernáculos.

Abala com tamanha violência 
com toda vil brutalidade 
como dona da verdade 
se acha a única com certeza 
destruindo a natureza.

Que vai seguindo feliz sem dor 
de bela imagem que é conceito 
seu tesouro a liberdade 
com que consegue tudo que quer 
apenas pelo respeito.

Espero que sem demora 
siga seu rumo sem fim 
partindo sem deixar rastro 
um que seja de verdade 
vai pra longe tempestade. 


Rodolfo Andrade
Petrópolis/RJ
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Nas viagens de fantasia 

Sobe morro 
desce barranco 
pula cerca 
caminha doidão.

Maltrata a natureza 
castigando seu corpo 
finge ser forte 
pensando bem alto 

Comida pra que 
beleza é a luta 
na hora da morte 
fez o que pôde.

Falar papagaio 
é mestre de tudo 
repete o dito 
mas preso na gaiola 

Errado não era 
simples mortal 
viveu para o mundo 
esqueceu de viver.


Rodolfo Andrade
Petrópolis/RJ



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PETRÓPOLIS CRUCIFICADA

Não existe brilho na lama
Nem Poesia imunda
Palavras não florescem lótus
Versos não carregam cruzes

Não se culpa a água 
Pela enxurrada
Água é isenta
De pecado e de benção

A natureza tem suas próprias asas:
Como anjos!
Caídos...
Ou elevados aos céus...

Oremos, sim, 
Pelos homens que morrem na lama !
São dois os seus destinos:
Os soterrados
E os que carregam o poder e o dinheiro na mão.

Nós, os sobreviventes,
Somos todos vassalos de Pilatos:
Lavamos as mãos !!

Depois, oramos pela Ressurreição!
Oramos pelo Perdão!
Oramos pela Páscoa na Consciência Humana!!

A cidade estava florida pelas flores da Quaresma ...
Viram a árvores roxas? Páscoa que se anunciava... 
Ao invès, veio o sacrifício...


Carmem Teresa Elias
Rio de Janeiro/RJ

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Onde a dor tem razão

Soam fúnebres os órgãos dessa serra
De caladas línguas de lama
De lágrimas secas de não ruir mais nada
Boiam fotografias divorciadas de gente 
Enquanto a lama empana corações
Reina (aqui) a vaidade laranja das encostas 
E rios de beber-nos riem de nós
Munidos de mágoas de chuva
Vão tingindo o mar de desgosto
Dilacerando moradas por dentro
Semeando saudades por fora
Fugindo e deixando pra trás o pó
E essa gente que a ele retorna.


Álvaro Assis
Petrópolis/RJ
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Caiu.
Caiu o morro, enterrou a casa e deixou os corpos.
Quem ficou diz que a casa caiu, em amplos sentidos.
Nada mais é vivido: enterrem os mortos!

Tudo caiu e algo ficou.
Nessa rima se encaixariam dor, pavor, terror, temor.
Mas hoje não faz sentido rimar.
Muita gente chora, muita gente ora
mas, por ora, vamos ajudar!

Carolina Machado
Petrópols/RJ
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É hora de mudar!!

Chora a cidade inteira
Chora a mãe que perde o filho
e filhos que perdem os pais
Há seres tão inocentes 
que partem de volta ao Pai
Chora o bombeiro que vê
de perto a desolação
Chora quem faz de tudo
em busca de doação
Em meio a tanta tristeza
Permanece uma esperança
Ela não pode morrer
Aos que creem na bonança
Aqueles que já partiram
que Deus os receba nos braços
Façamos uma nova história
mudemos os nossos passos!

Fernanda Foster
Petrópolis/RJ
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Imensa escuridão,
Dor, perdas,lamentação...
Dos céus as águas que levam,
Que lavam a alma...
É preciso ter fé,
É preciso ter calma,
Um pedido de paz
Em oração...
Senhor conforte o coração,
Desse povo, dessa gente...
Forças pra seguirem em frente,
Ó Mestre jesus... Irradia...
Muita, muita luz,
Na hora da travessia.

Felipe Quirino
Rio de Janeiro/RJ
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Súplica

Se o abrigo me escapa
suplico ao universo
(Con) sentimento do verso reprimido
Guardado de canto,
Escondido no poço do pranto...
Que nos chegue salvação.

Da súplica
Pode ser que venha a cura
Deste mal assim difuso...
Assim talvez nos chegue o sorriso
ainda que confuso 
Desta cidade...
Que (muito) nos falta...

Quando a porta do sol escancara
E os sonhos se tornam sombras
O anseio por renascer da morte
É mais forte e seria...
Como escrever outra vida.

Pois dos tantos sonhos frustrados
Alucinados encantos, vidas fragmentadas,
Em utensílios despedaçados...
Transbordam um rio profundo 
De prantos descompassados.

Paulo Roberto Cunha
Petrópolis/RJ
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SEM

O que será dos desabrigados
sem as suas lembranças,
porta-retratos e álbuns perdidos?
Esperanças são para o futuro
e o passado está destruído.
O batismo das crianças,
aquele choro gravado
de água e sal
na pia batismal,
a primeira comunhão,
as festas de aniversário,
os bolos, e agora o desconsolo.
Resta a memória afetiva,
que não poderá ser revivida
sem as imagens clicadas.
O que será dos desabrigados
sem terra, sem casa,
senão mais uma luta ,
um sopro de indignação,
para mantê-los de pé
e construir outro chão.

Maria do Carmo Bomfim
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A pedra.

Poderá
A pedra
Tirar
A estrela
de Pedro?

A chuva
Aperta
E a pedra
Rola
Junto
Com o barro
Que borra.

E vidas se vão.

Pedro
Viu paz
E beleza
Na pedreira
E a vida
Continua
Na Estrela.

A pedra
É atroz
Pedro a amou
E a fez estrela.
Assim é
Petrópolis...

'Amor pedreira'.


Giancarlo Kind Schmid
Petrópolis/RJ
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Petrópolis chora

Hoje a chuva cai
E leva com ela...
Sonhos vividos
Vidas estáveis
Paredes concretas
Um pouco de mim
Um tanto de nós
Lágrimas escorridas
Mãos estendidas
Buscando um pouco de vida
Por debaixo dos escombros
A chuva cessa
O sol aparece
A esperança renasce
E a vida novamente se fortalece


Claudia Marinho
Petrópolis/RJ
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É UMA TRISTEZA SÓ

Jamais podia imaginar
Que um elemento natural
Que chamamos de água.
Pudesse ter tanta
Força assim que
Sai levando tudo
Que vê pela frente
Mão importa o que
Está no caminho.
Sem contar com as
Barreiras que caem
Dos morros e saem
Derrubando árvores
E casas. É uma
Tristeza só.
Por essa razão que
Infelizmente perdi
Um irmão de coração
Que água levou
Para encontrar com
O nosso pai celestial
Que levou para morar
Com os anjos lá no céu.

Alan Bastos
Petrópolis/RJ
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As águas de março que fecharam o verão
Não trouxeram vida, e sim destruição
É pau... é pedra... fechando caminhos
Destruindo sonhos, perdendo o ninho

“É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho” (Tom Jobim)

Tania Montoya
Petrópolis/RJ
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Eldorado

Ditos os clichês os mais surrados
Feitos os discursos mais banais
Pérolas do óbvio aos bocados
Nau que vai a pique em pleno cais

Quando a fome aperta e o teto falta
que fagulha acende a esperança?
Ratos são tangidos pela flauta
Homens, pelo mel da fala mansa

Nesse jogo as cartas são marcadas
Onde o risco sempre é quase tudo
e a recompensa, quase nada

Bala adoça a boca ou fura o peito
Líderes falando e o povo mudo
Fila indiana em beco estreito

Jorge Ricardo Dias
Rio de Janeiro/RJ

2 comentários:

Gilson Faustino Maia disse...

Não é hora de se culpar ninguém, esse ou aquele político, até porque são sempre os mesmos. Um se diz melhor que o outro. O povo briga por eles, até mesmo para levar uma vantagem pessoal e a cidade fica esquecida. Sem falar nas médias que se faz com o governo estadual e federal. Quando vem a eleição é época de beijar a mão, de tomar uma no boteco do morro. Vem a chuva o povo chora.

Rodolfo Andrade disse...

Esta é a hora em que temos que buscar, bem la dentro de nós, a força para viver a solidariedade. Certos de que como a vida renasce a cada dia.